quinta-feira, 25 de abril de 2013

INTERTEXTUALIDADE: O NAVIO NEGREIRO

O TEXTO: Leitura e reflexão texto I O NAVIO NEGREIRO O poema “O navio negreiro” foi escrito em 18 de abril de 1868, mas tornado público apenas (e não por acaso) no dia 7 de setembro daquele ano, quando foi declamado durante a sessão magna comemorativa da Independência, no auditório da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Se o tema do tráfico negreiro já estava superado (afinal o último desembarque de escravos negros datava de 1855), o mesmo não se pode afirmar da campanha abolicionista e do clima nacionalista: em 1868 o Brasil vivia o auge da Guerra do Paraguai. O poema divide-se em seis partes, ou cantos, na linguagem épica. O fragmento transcrito forma a 4ª parte, em que o poeta faz a descrição do navio negreiro e do sofrimento dos escravos. “Era um sonho dantesco...O tOmbadilho Que das luzernas avermelha o brilho, Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar do açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendo a dançar... Negras mulheres, suspendendo as tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças... mas nuas, espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoas vãs! E ri-se a orquestra, irônica e estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se os gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece... Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra E, após fitando o céu que se desdobra Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!... E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica serpente Faz doudas aspirais... Qual num sonho danteco as sombras voam... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!...” ALVES, Castro Alves – obra completa. 2.ed.Rio de janeiro: José Aguiar, 1996, Apud Ernani Terra e José de Nicola

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